21 de maio de 2025

Possuo a ética do utensílio, sem, na verdade, nada possuir. Não me cumpre censurar a quem eu sirvo - se a mão do herói ou do assassino, sob um pano de fundo de mito ou crime - só servir. Desempenho a minha função, solícito e com brio, recusando o sucesso e prémio do ofício, e descanso no dia que descansa e se despede até ao trabalho do dia seguinte, esboçando, antes de me encostar ao travesseiro dos sonhos, um sorriso de fadiga de missão cumprida, enquanto a longa manta do escuro me cobre desde a ponta do calcanhar à ponta do mais alto cabelo, entretecendo-me com a hora escondida da fantasia, tornando-me invisível.

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