23 de outubro de 2023

Jeux Interdits

 

Na noite em que quiseste ir pintar a manta com os teus amigos e me juntei ao bando como uma cor fora da paleta, havia entre nós uma barreira invisível na pista: eu sôfrego, tu comprometida. Tu não podias dar nas vistas, eu não deixava de fitar o meneio synthpop das tuas ancas. Dançámos com o bem e o mal até não saber quem ambos eram/éramos, dois avatares da ausência, como se não houvesse amanhã nem ontem, enquanto, vidrada, minha mente reprojectava a viagem de táxi que nos conduziu antes até à musicalidade da circunstância, mais concretamente, no banco traseiro, como nos comportámos como adolescentes temerosos em que a minha mão procurou, tocou e se fechou sobre a tua, suavemente, sem uso excessivo de desejo, numa encruzilhada onde líbido e perigo convergiram para a polpa sumarenta do momento e fruímos do fruto da hora interdita até descruzarmos trilhos. O episódio foi sol de pouca dura. Tu escolheste outra alba e eu retornei ao familiar reduto das sombras - lendo versos de rebeldes e temerários, quase todos já mortos -, em que só a poesia e a loucura andam de mãos dadas.

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