27 de abril de 2018

Quasar

Desengana-te, aspirante a astronauta, não há qualquer fim na literatura, essa arte e indústria sem préstimo nem prémio. O que pensas serem estrelas resplendendo são na verdade um diadema de numerosos satélites desactivados sem vivalma ao comando, como qualquer esforço tecnológico, frustrantes tentativas de afrontar os divinos e usurpar o seu trono, vislumbres de sísifo empurrando a pedra desesperada da solidão irremediável e universal do homem para o silêncio profundo das trevas siderais, estreitando seus espinhos sobre a consciência do planeta, a condição da espécie. Servimo-nos de um poema, como nos servimos desse lugar, como nos servimos dos oceanos, como nos servimos de todas as coisas, como nos servimos uns dos outros. Distante depósito de lixo, cósmico, mas lixo, impossível de reciclar pela ecologia do espírito mais alumiante sobre o destino da raça, a herança dos filhos, a última palavra do futuro que mão funesta lavrará em testamento, o prego derradeiro no caixão do projecto, segundo Pascal, o mais sangrento.

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