23 de maio de 2024

Despolariza

Há cinco guerras activas no mundo, que não vou enumerar, porque não me apetece esclarecer o coração das trevas, que é o coração comum de todos nós. Quando expresso a minha opinião, simpática ou não, por uma determinada fação, serei inimigo da outra? Eliminou-se de vez o nevoeiro da nuance, para se imporem no peito nu da dúvida, os pioneses condecorativos da eterna noite escura de uma verdade una e inconsútil? Dividir-me não será a traição da visão holística da humanidade? Quer dizer que certos órgãos, certos membros do corpo da consciência colectiva estão podres, não prestam e devem ser amputados ou deitados fora? Se preferir o azul estarei contra o amarelo? Entre duas coisas, haverá sempre uma oposição? A actualidade encontra-se agora capturada e manietada pelo punho de ferro do regime despótico da dicotomia? Tornámo-nos mesmo seres duais? O virtuoso e, do outro lado, o inimigo da virtude? E a poesia, sairá afectada com isso? E os deuses, renovarão gargalhadas diante de mais um triste episódio de la comédie humaine?

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