24 de maio de 2024

Errata

Nunca dominaste minimamente a linguagem do amor, davas tantos pontapés na gramática, quanto as coças que sofreste da vida, por isso, das raras vezes que tentavas expressar afecto ou estima para com os teus, cada vez em menor número, entes queridos, como uma canção mal sintonizada no autorrádio, de quasi inaudível instrumental e mastigado refrão, cedia ao vício da virtude e corrigia-te. No lugar de um 'gosto de ti', querias dizer 'amo-te', porém as razões do teu coração resistiam às regras da língua. Hoje vejo nisso uma certa poesia. Não devemos impor ao outro a forma como exerce o seu fracasso de ser livre. Há quem prefira ser quase um livro em branco. Porém, nada disso importa. Descansa agora, adormece no repouso do calor da luz do que recordo de ti.

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