Evelyn Mchale, 23 anos, o nome da jovem aérea mulher que, ao pular da vida procurou em instância última, o descanso do chão há muito ansiado, acaso devido. Esta escriturária evitou sem sucesso não cair no dia da secção necrológica dos jornais ou ser a santinha sensacionalista dos fiéis das ondas electromagnéticas e raios catódicos. Dela pouco quis saber, para além da beleza dos malditos e a elegância no traje da moda, conforme a época que a escravizou e a empurrou para a liberdade, ignorante se o marido a traía como Plath e Hughes ou se esta era uma mãe sádica à imagem de Sexton, infligindo maus tratos sobre a eventual ninhada. Sem móbil para o seu acto, permanece enigma, rezando a lenda que era um pé de plataforma de observação, outro já pura fantasia, quando deixou tão suave quanto decidida, o 86.° andar do Empire State Building. Um espectro social, de rosto sem fúria e corpo sem som, diligente simpatia servindo cookies e lemonade, the post-war american way, nos piqueniques costeiros de fins-de-semana inundados de verão . A meus olhos é tão-só uma imagem, uma imagem que se desprende do enquadramento, ou nem isso, mero contorno de significado nas retóricas devaneantes da Literatura da percepção e representação, que contraria qualquer outra imagem, - que a tente fixar e explicar- , e se lhe oferece combate. Poema, fantasma, magia, imaginário, sonho, projecção, adivinhação, bela morta em forma de corpo fora da realidade, honrando toda uma vida, já instalado numa estranha dimensão que, para quem o fitou, nunca existiu, agora residindo, como qualquer abstração, nos ocultos domínios do infinito.
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