Numa rua sem árvores desenhando círculos com a ponta dos dedos no rebordo da caneca de chá esquecida como a vontade de o beber ele recorda um dado momento recuado no tempo e o seu rosto sulcado e trabalhado pelas vivências e mundivisão, alumia-se como um pomar ao sol numa tarde perdida algures na lembrança, não necessariamente na meninice. Nessa pausa, alheio, não dá conta de que memória e identidade se digladiam e devoram entre si até ao infinito e para além disso, até que regressa como de um sonho ao que conhece: uma realidade corriqueira sem grandes desassossegos e surpresas, tendo a estranha, nova e agradável sensação interna de ter sido comido vivo.
Sem comentários:
Enviar um comentário