18 de junho de 2018

Vera Icon

Evoco um episódio do Holocausto
citado visualmente pelo iconoclasta Banksy.
Como o que sublinhou os lábios desses prisioneiros,
quando a Cruz Vermelha Britânica chegou ao campo
com um carregamento de baton róseo
reluzindo como guloseimas dulcíssimas, alegrando os olhos e rostos sujos,
moribundos e famintos, não mais cinzentos fantasmas
marasmados do horror e ódio, à semelhança agora da imagem exótica,
vinheta de BD grotesca, inverossímil, mas também suave e tocante
de uma tribo ameríndia assaz antiga, de pijama às riscas, em contacto
com os primeiros sinais da civilização
do explorador que acabou de a descobrir. Só gosto da maquilhagem que nos tenta restituir a humanidade,
não daquela que no-la tira e dissimula com beleza corruptora a cara cómica que nos saiu na rifa genética do enigma.
Assim devem ser nossas palavras: de mestres a discípulos, pronunciadas e inscritas, da mais concreta à alegoria.
A propósito, estás linda.

Sem comentários: