4 de janeiro de 2018

Bioacústica

Li algures que as árvores também gritam de dor. Um grito tímido que se confunde com o rumorejar quase surdo da resina. Como tu, ignoro, como tantos outros segredos, a vida secreta das plantas. Depois, esse dado associou-se livremente a outro esclarecendo-me que os ecossistemas se encontram cada vez mais calados, como é óbvio, devido à forma como os homens influenciam e agem sobre a música do meio que invadem e colonizam. Os ameríndios norte-americanos não tinham uma palavra para Natureza, pois nunca se divorciaram do mundo das canções da terra, coro de espíritos. Creio nunca haver abraçado uma árvore, tão-pouco segredado algo absurdo ao bonsai doente do escritório ou segurado entre a indiferença dos dedos as petúnias da cozinha, mas gostaria que o fogo das minhas imagens pudesse combater os archotes bárbaros do progresso, que por uma vez não cantasse o silêncio de um fim que os primeiros versos deste poema, qualquer poema, enunciam, a morte, sempre a morte imiscuindo-se nas folhas caídas do que não dizemos, com as suas cinzas.

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