18 de março de 2013

Apsta

Chamam-se de germinações às pequenas marcas
(por vezes tão diminutas que se tornam visivelmente invisíveis)
presentes nos diamantes

senhores e escravos de um

começo tenebroso
e cheio de falhas

tão escuro que parece uma
pedra morta

arrancada a ferros
das mãos brutas
da terra

depois, pela paciência e precisão
do polimento

embelezada até o ponto Apsta,
a perspectiva de olho em que a luz
atravessa por igual todas as facetas
do objecto

desde o negro aos
de sangue

de seguida passando-se à lapidação,
da pedra que é o composto mais duro do mundo
( um diamante só é riscado por um diamante)

uma existência que é uma essência,
como queria Parménides,
imune ao impacto do tempo
em duração e sugestão

podendo-se acaso conotá-lo
com os homens, suas virtudes, vícios
e costumes

agruras e êxtases
caminhos e labirintos

e o facto de chegarem a matar outros homens
para obter um pouco da sua luz
( luz, essa visível música multifacetada da matéria)

seja pela arma, seja pela metáfora

Deles diz-se também serem os melhores amigos
da mulher e os melhores
animais domésticos dos homens de poder

um pouco acima na hierarquia afectiva,
do cão e da tortura



Pedras com mil caras,
Para o homem que tem
mil máscaras

passaram pelas mãos de reis,
putas, ladrões

e nunca mudaram,
nunca mudam consoante
as conveniências e caprichos

Variedade polimórfica do carbono
que se mantém igual há milhares de anos,
desde a Índia 3000 A.C., passando
por Roma, Pérsia
etc

assistindo em seu nome
ao erguer e baquear de impérios,
civilizações, projectos,
aspirações e sonhos,
negócios e traições,

chamam-lhes beleza, perfeição,
bênção de deuses

sua inacessibilidade
ilusoriamente acessível
a olhar e mão humanas

como palavras de poemas
um sinal, um vislumbre

-um mundo de ilusão que não é
uma ilusão de mundo-


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