26 de março de 2012

Um homem muito velho

Como não sabia ler assinava
de cruz os documentos civis.

O desenho de dois traços que se cortavam assinalava
o lugar de uma vida ao longo de duas
guerras, uma ditadura e uma revolução.

Muito franzina de figura, olhos miudinhos, boina
tão puída e desbotada quanto as mãos,
não lia, mas tinha tanto ou mais para
relatar quanto um livro.

Assinava de cruz
no mapa do alfabetismo burocrático,
solitário tesouro de pirata domiciliário rogando

- Descubram-me.

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