4 de maio de 2024

Guarda-Chuva

Tinha-me esquecido do guarda-chuva no nosso bengaleiro, pelo que, quando senti o súbito e subtil enunciado dos primeiros pingos, protegi a cabeça deste conto de intempérie, com o vistoso e perfumado bouquet de flores desconhecidas que estavam a umas horas de diluviano percurso do destino do teu sorriso de porto tranquilo. Devo ter calcorreado o que me pareceram séculos e séculos de passeios (foram), que, ao ignorar o arco íris desmaiado no azul sem vontade do alto, fez-me sentir falta da voz dos trovões como se essa cadência narrativa me guiasse e musicasse os passos, mas agora estava só, com um ramo de flores em fanicos, em silêncio, no interior do restaurante de sempre, olhando duas cadeiras vazias e um par de velas tremeluzindo na sua verdade que fazia questão de não me esquecer de celebrar cada aniversário sobre a tua partida.


Sem comentários: