27 de fevereiro de 2024

The Sound of Music

Durante 45 anos passei todos os Natais colado ao televisor, primeiro encantado com a alma colorida das imagens  (nunca as vi no grande ecrã e sinto pena), depois escarnecendo das mesmas , como qualquer bom e tolo adolescente, mais tarde revendo a fastidiosa e esclerosada longa metragem, por querer apresentar-te, filho,um pouco da magia do que perfez a meninice do teu e de muitos pais, e os anos formativos de amor ao cinema, e hoje, enquanto Maria e a família von Trapp entoam em coro para uma plateia cheia, Edelweiss pela enésima vez, com uma lágrima quase defenestrada das janelas de uma alma acerba e sombria - com um pendor verboso de falar auto-indulgentemente de si mesma-, lamentando não sabe muito bem que perda, mas pertencendo e se definindo, a cada idade pela qual passa, mais p'lo que lhe falta ou preferiu abrir mão, cultivando a saudade aceitável das paixões e feitos de antanho, mas contornando as rotundas da lembrança, seguindo em frente, embalado pela fúria motriz de futuras aporias e conflitos, sem, obviamente, ceder à tentação órfica e olhar para trás, desabraçando uma ruína que amou como ideia de paraíso.

Sem comentários: