Espirais de fumo de cigarro enchem a pista de dança entrançando-se com o desenho de luzes rosa e violeta, num nevoeiro de inspiração shoegaze. Em silêncio e sussurros recolhem-se e arrumam-se os instrumentos em caixas de metal e sacos sintéticos almofadados, desmontam-se os microfones e desligam-se as colunas, varre-se e lava-se o palco. O flóreo perfume do lava-tudo volteia em torno de borboletas nocturnas que orbitam em volta das gambiarras acesas como meus lábios em rubras volutas de colibri tão perto e tão longe dos teus. Custa trabalhar de sol a sol para a alegria dos outros e estar demasiado cansado para conseguirmos sorrir por lhes ter possibilitado essa rara e bem-aventurada circunstância. Que dia há a aproveitar, a quem, desfavorecido pelos deuses do capitalismo tardio, não pode aproveitar o dia? Beijemo-nos, amor, e esqueçamos mais uma noite de música sem poesia.
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