Ergo os olhos para a
escultura das tuas mãos velando o repouso dos ossos, como os dedos simulam o
gesto do enquadramento cinematográfico que simulo com os meus, lembrando uma
curiosa conclusão de Kiarostami "É interessante verificar como os homens parecem
entender tudo muito melhor quando se apresenta dentro dos limites de um frame".
Cofio as barbas e componho os cabelos de pessimista, limpo os óculos sempre
sujos e entreabro a boca, na esperança (virtude que a ambos desagrada), que
procures o meu depoimento sobre o porquê da minha visita ou da vida, se pretendo
saber como os mortos vivem, como se ocupam, se no além também se ama e odeia ou
se dançam ao som de outra música, se a câmara perdura em filmar para além da
última imagem, que movimento têm as coisas depois do movimento das coisas.
Nada
dizes ou sou eu que não te ouço, partilhando de um silêncio
servindo de barreira
linguística,
opressivo,opaco,surdo,mudo,como uma parede,
debaixo do céu de um
azul sem respostas e um mistério,
como o cinema, a cada breve encontro, sem medida.
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