19 de outubro de 2021

Caleidoscópio

 Passaste a vestir cores ao invés de quereres coser a caricata sombra às andrajosas asas caídas da noite. Roda agora a paleta do mundo no teu olhar irisado, com lavanda, branco, fúcsia, o fogo pálido do rosa e a terra que voltou a ser azul como uma laranja. Passaste a suspeitar menos ou a duvidar de cara risonha. Por ora, parece-me um recurso agradável, parecer um jogo floral que atravessa sem cinismo numa serenidade recendente, a poluente e ruidosa avenida do banal mundano. Desconfio contudo que nada salve ou de pouco sirva, mas pelo menos nada se deve, nem se depende de ninguém. Ainda assim, tens esperança ou confiança num outro porvir, nos amanhãs que cantam ou que diminuem as vozes do coro do tempo, é candente a estrela cadente no céu por trás do que no segredo de um deus desejas. Que enquanto cá andarmos, pelo menos, esgotemos todas as impossibilidades.

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