6 de fevereiro de 2020

Hibernação

Esquilo desmemoriado anda o poema
a recolher palavras que ele próprio ocultou
estudando cuidadosamente o visco do rastro
besuntado nas superfícies do aqui agora
para seguir irredutível no seu encalço,
removendo-lhes a casca que desvela
os silêncios que lhes vão dentro
armazenando-os depois no interior das paredes
da toca do mais longo dos invernos de Brueghel
que silenciam tudo o que é interno e em redor                                 

Nunca se sabe se não virá a precisar delas quando ao passar para o outro lado
da sombra e da luz das árvores                   
que disparam tempo e imanência                 
céu afora terra adentro
descobrir quão ruidosos e tagarelas
são também os mortos

Sem comentários: