26 de agosto de 2019

Lacrimae Rerum

Uma lágrima, uma solitária e única lágrima,
Uma lágrima que não cai, de austero brilho,
digna intermitência de algo já esquecido ou
que deve ser rememorado pela membrana do silêncio,
uma lágrima nobre, arcana, helénica, mas humilde, ao nível do chão tonto
com os píncaros, estrela de razão e delírio no fundo escuro de um olho
que tudo viu e do que viu tudo disse, conhecedora do mundo das formas sensíveis
e metafísicas, prefácio sem tempo do espaço da lágrima seguinte
ou acaso do claro sorriso culpado de a termos dado por sabedoria
garantida, uma lágrima em todas as coisas, nossa dívida e subsídio,
como lemos em tempos em livro fundador
de folha de papel bíblia e encadernação quebradiça,
uma lágrima, suspeita ou dúvida de emoção, enlevo subtil,
sinal biológico de contágio de irmão a irmão,
dote inteligente do casamento do belo com o bom,apadrinhado enlace
pelo amor, celebrada em segredo e sem ironia,
redentora razão dourada de nos vermos finalmente como família,
num passado agora remoto malquista.

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