4 de janeiro de 2018

FINISTERRA



No fundo sempre soube da existência do lugar, mitológico, mítico, onírico, somente ignorava que se apresentaria à minha franzida contemplação em forma de uma pessoa que na verdade é tanto acto fisiológico como sereno sacramento, besta do sagrado feminino. O lugar é este, onde toda a linguagem, e, por conseguinte, todos os poemas, vêm morrer, mas em sossego, como se se houvessem cumprido, cumprindo, isto é, reconciliando o mundo da acção e o mundo da ideia = a mão é o espírito, poderia escrever-se. Mas dizia eu, onde a linguagem finda, o silêncio principia. Não é esse o sonho utópico dos poetas? O semovente e fugidio alvo sempre sob a sua mira? O poema que os faça depor a caneta e finalmente dormir? O poema que todos os outros elide? O verso apocalíptico? O fogo irreal que extinguirá a sua chama no meio do deserto do possível? Onde a linguagem já não é - eis uma definição do Amor. Neste espaço até o ar se emprenha de concretude, a concretude das certezas, isto é, as respostas que alijam do homem o desespero de nunca saber nada através do estudo e serviço da palavra, dita, lida e escrita. Chão que não é território nem mapa. Fim da terra, onde para lá do extremo da falésia mais protuberante, céu e mar são inconsutéis, como partes diferentes-iguais do mesmo vestido de noite que apazigua e faz sonhar a consciência. Como eu e tu, quando os nossos olhares parecem confundir-se, sempre à mesma altura na linha do horizonte do que fixam. 

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