8 de abril de 2017

UZMAL

 Meu tempo de escrita avança através de tempos de textos antigos, como o homem Maia subiria até ao cimo a inclinação deste templo - cada degrau forçando-o a um rosto baixo e a uma coluna torcida para baixo, em sinal subtil de respeito por algo maior do que o maior dos maiores algos, os pés calejados pisando cinzas sacrificiais de bibliografias passivas, outrora vivas como ele. A caminhada decorrendo e concretizando-se no mais denso e simétrico silêncio, como se os mundos de indivíduo e objecto estivessem interligados por um tronco comum, ausente quando alguém estranho e interdito à cena o tenta ver, copa e raiz na mesma árvore unindo invertidamente as dimensões várias do ser e não-ser. Acho que, ao contrário do que exortava certo poeta, não precisas de mudar a tua vida, mas sim admirá-la e amá-la, que o gesto já será um acontecimento transformador. Como disse ao filho Arsenii Tarkovsky- depois de ter visto O Espelho- O que tu fazes não são filmes-, não banalizes a unicidade do poema falando de ti próprio. Lavra na página eléctrica as mil auroras que viste nascer ou os segundos quase intérminos em que o mesmo rosto amado-amante te fitou. Aposto que não haverá uma vez gémea da outra. Honra os teus olhos.

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