6 de maio de 2015

INCIPIT


Eis-te chegado, Barbudo anti-Ché.
Tu que nunca tencionaste mas que contingências
e circunstâncias te predestinaram ao castigo de ser eterno.
Tu dom, que o paladar de muitas bocas virá a saber
saber a dolo e dor, hera de estrias de raiz una na
singularíssima feia língua mordida.
Tu que preferes jogar frisbee com o halo,
Atirá-la ao ar e aos gatos seus, sem te apetecer escrevê-lo.
Tu que te espalhas vacilante de pata lenta e comprida,
Por webzines e residuais heróicas insistências de papel.
Tu, Bruno, como Giordano, hilozoísta e panpsiquista
altermoderno de 78, com tua Libertas Philosophica
própria e inalienável de ti.
Tu que te afectas verso barroco e bizantino,
Em vez de barro oco e tosco,
Por seres ventrículo num tempo de putas
E lobos ventríloquos.
Tu que agora te enfias terapêutico ininterrupto fílmico
no King para não teres ideias, e és capaz de ouvir Tool
até perder os sentidos, os significantes e significados.
Tu que juraste há muitos poemas-disparate,
Nem uma plaquette pena azul-gaio entalada
Na claquette, desta vida, que tantos insistem
(mas sei o contrário), não se tratar de um travelling
de Béla Tarr.
TENS AGORA UM LIVRO.
Mas, com isso, vais ter de lhes explicar
que um poemário não é um homem e um homem
demora ao indivíduo, como um bicho mamífero
não resume seu reino, filo, classe, ordem, família
género e espécie.
E se não perceberem à primeira, só para lhes foderes
a cabeça, alonga-te, pouco importa se aclamada, zurzida,
ignorada, vasta e vária
bibliografia activa.
Mas, antes de vires dançar com uma garrafa nocturna,
Para à lua-rua desse bairro problemático, não te esqueças
De pôr amor, amizade, beleza e loucura no porta-chaves
( mesmo que só dêem acesso a caves, sótãos, arrecadações)
Vá, vade-mecum por esta opereta vaudeville folhetim
Telenovela bairro vermelho peepshow.
Se vos encher as medidas, pesar no músculo,
arrepiar, intumescer e
ensopar o órgão magno ( a pele, tarados),
Sorriam no fim.
Não ovacionem levantados de plateia-bis-bis.
Perdi um rol inumerável de noites brancas para isto.
O amor próprio.
Quase, efeito dramático, a vida.
Por favor, shhhh, não façam barulho,
apaguem a luz de vossas presenças,
fechem a porta com calado cuidado.
Preciso de dormir.

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