6 de junho de 2013

A Sobrevivência de Dédalo

Para Jack Guilbert

Cantaste o filho cadente,
seu heróico desiderato desgraçado,
mas que disseste, dirias, do pai?

Sim, sendo génio, também ele cometeu delitos de
criaturinha falha ( aquele assassinato...),
não obstante, como nós todos, constritivo cumpriu pena,
conquistando a sabedoria da modéstia e prudência,
que aparelharam de cera e pena a asa,
industriaram de voo moderado o tolo
ímpeto jovem, que deslumbrando-se com uma sensação
sem limite e a beleza de um azul infindo que trespassava,
precipitou-se num sono marinho para sempre,
para sempre pelo pai chorado.

A morte de um filho, a palavra
para a qual não há palavra,
ampliando o pesar à escala habitual de um músculo,
à escala de um universo que não pára
de se desmedir, vivendo mais um dos seus futuros de velho,
do que todos os presentes a menos
do seu rapaz.

Pôde assim o ascendente, até um mistério o convocar,
apesar de um luto perene e plúmbeo, inventar, com
cuidadosa parcimónia, mais prodígios e labirintos,
experimentar os segredos e gozos da existência, também um tanto
de seus desgostos mais pequenos ou outros mais goros,
respirar diafragmaticamente,
ser frugal na fruição
dos frutos,
pôr a vida a desobedecer
ao sonho,
ser mais homem que mito,
dormir mais

Concordarás, poeta,
que entre o sopro épico de morrer jovem de mito para ser amado pelos deuses,
e o sopro lento de morrer velho e são de homem,
não haverá questão quanto à escolha
do voo
ou devo cair no mar da dúvida?





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