14 de junho de 2012

Fugit


o cigarro é lento
escoadouro entupido
que não transborda

além da janela
na varanda
aportado no vidro
de uma emoção tranquila
um coração batido
como navio se aquieta e
inverna

a respiração serena a fonação
não sucede
o ar desce passando pela harpa da voz
sem a fazer vibrar

uns quantos flocos de cinza mosqueiam
a escuridão de firmamento
de rotinadas calças

poucas sugestões que não provêem
à mais incompleta sujidade
de um verso

cinza fumo
ínfimo efémero
minudências

é esta pobreza franciscana
ciência que nos tece e nobilita
capacita

de arrancar a pá
das mãos do tempo

e calmos e voluntários
implementarmos a vingança de
a fundo viver

escavar a própria fuga e dela
inumar o porvir

sombra já fria

mas que ainda e sempre
nos vale

não, a poesia não pode ser só
coisas que se dizem




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