2 de maio de 2012

Pequena Estrela para uma Elegia


Insisto em tua evocação porque
és para mim corpo-arquitecto que
desenha, argamassa, edifica e estrutura
minha memória

não interessa se tua historiografia
é factual ou efabulada

não sou Tucídides

vejo-te de um ponto de vista simbólico e utilitarista:

és material de construção de meu biografismo
mais ou menos velado

faço da imaginação, fóssil de cujo adn
se cria nova vida

portanto, só desaparecerás, na verdade,
no dia em que parar de te rememorar

só espero que então alguém
faça de mim seu avô

(eu no meio
do chamejante círculo de tus mnemónicos)

podendo ser que nos reencontremos
no momento onde a alma é barca que se bifurca
rumo aos céus católicos ou
a caminho do fulgor ateu
da pequena estrela de joseph brodsky

pelo sim, pelo não, comecei a aprender
as constelações com o coração,
a fim de não falhar o regresso a casa

esta lágrima é, pois,
pura logística

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