25 de junho de 2025

No velho armário, a traça tem todo o tempo do mundo para se banquetear com a camisa de linho pendurada no cabide semi-partido, enquanto, como pode, ele aproveita o dia, efémero e escasso como uma refeição mísera

10 de junho de 2025

As Lições dos Gregos

Já não as seguimos, pois resulta absurdo, nesta nova ordem económica, "colocar o celeste ao lado do quotidiano." Também modelos como Ritsos, Seferis, Kavafis soam a nomes estranhos e distantes de vocabulário de língua extinta, recuperada somente por uma pequena e obscura congregação de abnegados, que a praticam com intenções dúbias, num nebuloso exercício de erudição narcísica. Face à sabedoria e poder do mito, tendemos a baixar os olhos, em sinal de altivez ou desinteresse, não de humildade e reverência. Pobres de linguagem e pensamento, resta-nos o recreio do caos onde cada corpo roda rápido sobre si mesmo, numa mínima multidão devedora de um movimento sincronizado inadvertido, até alcançar o sorriso exausto da tontura, um corpo prostrado num duro pavimento, frio e rachado, sem nenhuma filosofia.

21 de maio de 2025

Possuo a ética do utensílio, sem, na verdade, nada possuir. Não me cumpre censurar a quem eu sirvo - se a mão do herói ou do assassino, sob um pano de fundo de mito ou crime - só servir. Desempenho a minha função, solícito e com brio, recusando o sucesso e prémio do ofício, e descanso no dia que descansa e se despede até ao trabalho do dia seguinte, esboçando, antes de me encostar ao travesseiro dos sonhos, um sorriso de fadiga de missão cumprida, enquanto a longa manta do escuro me cobre desde a ponta do calcanhar à ponta do mais alto cabelo, entretecendo-me com a hora escondida da fantasia, tornando-me invisível.

8 de maio de 2025

Corpus Glitch

Tântalo vibra no erro —

não corpo, mas silhueta falhada.

O tempo em si hesita nele,

e nele não se cumpre.


Pange, lingua, gloriosi

Corporis mysterium —

mas não há corpo que se ofereça,

não há mistério que se revele.

A carne que se almeja dissolve-se

em fragmentos de luz.


A água recua.

O fruto transmuda-se em dado corrompido.

O gesto estende-se,

mas nunca atinge.


Sanguinisque pretiosi,

quem in mundi pretium —

e no entanto, o sangue não flui,

nem se deixa consumir.

A sede não é de líquido,

é de forma, é de nome.


O rosto de Tântalo:

reflexo numa superfície partida.

Os olhos — memória de um arquivo extinto.

A boca —

onde a palavra sagrada falha e não se faz espírito.


Verbum caro, panem verum

verbo carnem efficit —

mas aqui, o Verbo não se faz carne.

Faz-se erro.

Faz-se glitch.


O céu cintila em código binário,

o chão reescreve-se a cada passo.

O castigo não é ausência —

é um loop litúrgico

que se repete sem transubstanciação.