Enquanto nesta tarde quente, sol e sombra se entrecruzam e separam, a um tempo, ora velando, ora expondo, com os seus espelhos de engano e perda, penso em ti e em quanto - ditosa ignorância - não te ocupas destas questões de somenos : o porquê da dança intensa dos instantes, quem a coreografa, não mexendo um dedo. Em suma, os confortantes enigmas do costume, banais pela sua recorrência : Deus ou Tempo, indo e vindo e indo, ao sabor de mais um destes escusados exercícios de tédio, da inépcia ou impossibilidade de calar a boca, sufocando-a, das insanas exigências desta puta demónica de consciência.
7 de abril de 2025
Códice
Não sou de impor preceituários e professar o que seja, mas, creio, o verdadeiro verso, isto é, tal como o devemos experimentar e se incorpora em nós, desenha um coração de calma e caos, unindo extremos num gesto de desenlace. Há uma cadeira a baloiçar sozinha , uma overdose de heroína e um baque que ninguém ouviu.
5 de abril de 2025
20 de março de 2025
Decante
É perecedouro o que outrora se pensava perene, mas a mesma mão que na fronte verifica os graus da febre e confirma o empobrecimento da carne, conforta-a, afaga-a, com o calor piedoso de uma palma deslizando lenta sobre a pele trémula de uma vida precária, hoje erguida pelas pás do desengano e da ruína.
Subscrever:
Mensagens (Atom)